Tirania

Tirania (Goyôkin), 1969.

Direção: Hideo Gosha. Com: Tatsuya Nakadai

Onde fica a linha entre o dever e a justiça?

1831. Enquanto uma narração nos informa que a ilha de Sado, na costa do Japão, possuí valiosas minas de ouro, cujos lingotes são levados de navio para o Xogum Tokugawa, uma aldeã volta para encontrar seu vilarejo de pescadores vazio. Todos os habitantes desapareceram “levados pelos deuses”.

Três anos depois, em Edo, um grupo de samurais tenta assassinar um ronin, Magobei Wakizaka. Magobei descobre que os assassinos pertencem a seu antigo clã, o clã Sabai. Eles foram enviados para matar Magobei porque ele é um dos poucos que sabe o que aconteceu naquele vilarejo.

Decidido a impedir uma repetição do massacre de mais uma vila de pescadores, Magobei resolve voltar para a província do clã Sabei. No caminho ele irá encontrar outro misterioso ronin, Samon, interessado no ouro desaparecido, Oriha, a única sobrevivente do massacre de 1831 e Rokuzo, parceiro de Oriha em pequenos golpes.

Um filme de samurai que se passa no inverno. Aqui o tempo inclemente – chuva e neve – fazem parte do cenário de forma integral. O clima parece carregar a dúvida do protagonista – conseguirá Magobei impedir um novo massacre?

Em Tirania, os samurais tem seu lado mais sujo demonstrado. Em nome do dever para com o clã, até onde eles irão? Em tempos desesperados, medidas desesperadas podem ser tomadas?

Mesmo os vilões em Tirania não agem por pura maldade, mas em nome do dever. E não é o dever para com o clã um dos pontos principais do Código do Samurai? Mas se esse dever levar o samurai a agir de forma errada, o que ele deve fazer? Inocentes devem sofrer em nome do dever para com o clã?

Tirania lembra o tema do filme anterior do diretor Hideo Gosha, A Espada do Mal. Estão lá a crítica aos samurais e a seu código de honra, nem sempre seguido, mas sua narrativa é ainda mais bem construída e o protagonista é mais profundo e interessante.

Os combates e duelos existentes também são ótimos. E a fotografia leva o filme a outro nível em algumas cenas. A neve dá um visual diferente às lutas. Os golpes são contidos e mortais. A fotografia do filme é muito bem feita e o fato de ser colorido ajuda nossos olhos modernos a apreciar o filme. Tirania é um filme que ainda é atual. Aliás, muito atual. Vale a pena ser visto. Junto com Samurai Assassino é, sem dúvida, o melhor filme do pack Cinema Samurai 2.

Inspirações para o RPG: uso do clima como um personagem

Tirania demonstra muito bem como é possível usar uma característica climática como um fator importante da trama. No caso é o inverno, mas em um jogo poderia ser uma chuva, uma enchente, um incêndio ou uma seca (tem um cenário de Imperial Histories que se passa durante uma grande seca em Rokugan).

 

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