A Espada da Maldição

A Espada da Maldição (“Dai-bosatsu Toge” / O Passo do Grande Buda), 1966

Direção: Kihachi Okamoto. Com Tatsuya Nakadai e Toshiro Mifune.

Parte da Coleção Cinema Samurai 2. Filmado em preto e branco, tem uma fotografia magnífica. Tem também uma trilha sonora fantástica.

Baseado em uma série de romances históricos japoneses, a premissa inicial do filme parece simples:

Japão, 1860. No crepúsculo de uma Era, acompanhamos a jornada sangrenta de um samurai amoral que mata sem compaixão ou escrúpulos, dedicando sua vida ao mal. Um dos maiores filmes de samurai de todos os tempos.

Entretanto, a história tem bem mais sutiliza do que essa breve descrição aparenta. A atuação do ator principal, Tatsuya Nakadai, é genial. Seu papel é o de Ryonosuke Tsukue, um mestre do estilo Kogen Itto-ryu, que já mostra sua crueldade desde as primeiras cenas. Nakadai realmente passa a imagem de um samurai amoral, incapaz de qualquer sinal de compaixão, cujo grande objetivo é enfrentar outros samurais e mostrar sua superioridade, mesmo que para isso desrespeita aos princípios de honra do Bushido. Sua arrogância, entretanto, o leva a perder sua posição e a virar um ronin, o que o leva a uma espiral cada vez maior de violência.

Os samurais estão decadentes, com grupos de ronins assassinando adversários políticos nas ruas e com pouca lembrança do código do Bushido. É realmente o ocaso final da era dos samurais e poucos samurais parecem ainda lembrar de seguir o caminho do guerreiro. Como diz o mestre samurai interpretado por Toshiro Mifune: “A espada é a alma. Um espada maligna é uma alma maligna”.

O filme deveria ser o primeiro de uma trilogia. Entretanto, os outros episódios não foram filmados. O final é bem abrupto e repentino. Ainda assim, a história do filme vale muito a pena.

duelo sword of doom

Os duelos, inclusive uma cena de combate na neve que é lindíssima, são muito bem feitos. O combate final não deixa nada a dever à luta de Kill Bill, em que a noiva enfrenta os Crazy 88. Aliás, considerando que Kill Bill foi inspirado pelos filmes de samurai da época, este deve ter sido uma das inspirações de Tarantino. Além disso, os duelos – desde dois bons exemplos de duelos de Iaijutsu, até duas lutas maiores -, mostram como o combate é mortal.


Inspirações para o RPG Lenda dos 5 Anéis: Roshigumi (Esquadrão Ronin)

Na história, aparece um grupo de ronins que, com alguma adaptação, se encaixa bem em certos cenários mais políticos de Rokugan. Eles funcionam como uma espécie de milícia.

Durante o filme, a história não fica muito clara (aparentemente, ela é bem conhecida pelos japoneses, então o diretor não se preocupou em explicar tudo), mas nada que uma pesquisa na Wikipedia e internet não ajude:

Em um certo momento, Tsukue se junta a um grupo de ronins chamados Shinsengumi ou o Grupo Mibu (derivada do nome da aldeia que o grupo usava como base). São uma força policial semi-oficial a serviço do Bakufu, o governo militar dos Tokugawa, incumbida de policiar Kyoto.

Na época, os clãs de samurais estavam divididos entre os partidários do Imperador e os do Xogunato. O Shinsengumi atua como assassinos para o Xogunato, intimidando e matando os adversários políticos do Shogun.

No seu auge, o grupo chegou a ter cerca de 300 membros divididos em várias unidades. Uma pequena parte de seus membros eram fazendeiros, artesãos e mercadores, que queriam virar samurais. A maioria, inclusive os líderes, eram samurai.

O Código do grupo tinha 5 artigos: obedecer ao Bushido, nunca deixar o grupo, não tratar de dinheiro individualmente, não tomar partes nas disputas de outros e não entrar em duelos individuais. Também proibia fugir de uma luta, se o líder da unidade fosse morto.

O grupo era dividido em facções, as principais delas controladas por Serizawa Kamo e Kondo Isami. Serizawa é violento, impulsivo e beberrão, preferindo que outros façam o serviço sujo por ele. Kondo, por sua vez, é bruto e mais centrado, vindo de uma província do interior (lembra um ronin oriundo do Clã Caranguejo). Inicialmente aliados, os dois passam a disputar a liderança e a planejar um matar o outro.

São um pouco mais do que um grupo de bandidos, já que, em tese, agem sob a autoridade legal. Assim, não podem ser enfrentados abertamente, pois seria agir contra o governo do xogunato. Ao mesmo tempo, o governo pode negar participação em qualquer crime cometido por estes ronins.

Em Rokugan, o grupo de ronins pode estar ligado a um Daimyo poderoso que os usa como uma força policial para atacar seus adversários políticos. Ou, se você usar o cenário do Imperial Histories do governo militar (Capítulo 2 do Imperial Histories), eles podem servir ao governo militar, sendo usados para perseguir seus adversários políticos de uma forma semi-oficial.

Eles podem ser inimigos dos PCs ou então um dos líderes do grupo pode tentar envolver os PCs em suas disputas internas.


O Shinsengumi esteve envolvido em um duelo famoso com um grupo de sumô, o que é uma ideia tão fantástica que não pode ser perdida por nenhum mestre de L5R: em algum ponto colocar seu grupo de samurais para enfrentar um grupo de lutadores de sumô.

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